Irã - preparação

           Preparar para uma viagem é sem dúvidas um misto de emoções, dúvidas e ansiedade, eu tomo essas emoções como as principais delas. Escolher o destino da viagem se torna o passo mais simples perto de outras coisas que podem vir a fazer parte desse todo. És a minha escolha: Irã. País distante, primeira viagem internacional, cultura diferente, política diferente, etc. Mas enfim, "quem" é o Irã e porque o Irã?  Posso citar sobre a história, sobre a arquitetura, sobre o passado grandioso, religião, poetas, culinária, mas posso dizer seguramente que não são esses os principais pontos que me fizeram desejar essa viagem. Sou apaixonada por tudo isso dito, afinal quem não ama culinária ou arquitetura? Mas o que me fez parar e dizer: hey, eu quero ver o Irã! Foi o povo. Seguramente digo, eu não sabia nada sobre o Irã, apenas o que todo mundo sabe "homens bombas", "atentado terroristas", "violências das piores formas contra mulheres" e muitas outras coisas que nem é preciso citar aqui. Então provavelmente você me perguntaria, mesmo sabendo de todas essas coisas ainda sim sentiu vontade de ir até lá? A minha resposta é e era decisiva "sim". 
          O primeiro contato que eu tive com iranianos nascidos e criados dentro da lei islâmica foi através de redes sociais, interesses em comuns nos levaram a sermos amigos na rede, e daí começaram os assuntos e as longas conversas. Quando menos esperei meu circulo de amizade com eles estava grande. Moças e rapazes de diferentes opiniões sobre o próprio país e até mesmo sobre a religião predominantemente Xiita. Em sua maioria jovens com idade universitária. 
Meu preconceito inicial era muito forte, até eu começar a ouvir o outro lado da moeda, o lado que as mídias politicas não mostram. O lado humano e civil de pessoas que assim como eu tinham sonhos, planos e revoltas sobre decisões tomadas sobre suas cabeças. 
          Tomei a decisão de que eu deveria conhecer o país partindo de um sentimento que passei a sentir conforme eu ia conhecendo melhor meus amigos, o sentimento estranho de querer e ter a necessidade de provar o quão importante eles eram para mim. Durante conversas eles me passavam a impressão de que estavam jogados e esquecidos pelo resto do Mundo onde ninguém, nenhuma nação se importassem com eles. Então eu dei minha palavra de que iria atravessar o oceano para vê-los, então eu poderia compreender melhor o que eles tentavam me explicar. Nessa viagem eu não embarquei sozinha, levei minha melhor amiga e parceira de viagem, minha mãe. Isso mesmo, se você está indo para um lugar cheio de desafios culturais principalmente para uma mulher, porque não levar a pessoa mais importante com você para se sentir um pouco mais seguro? 
         Então os preparativos começaram, pesquisas e mais pesquisas sobre como se comportar, como se vestir, onde ir, cotação do Rial Iraniano, qual a melhor época (climática) para estar lá e claro documentação exigida. E foi nessa hora que descobri que eu precisava do visto antecipado para entrar no país e de uma carta de recomendação. A missão começou em ter que irmos até a Embaixada com a Carta Convite feita a punho por um Iraniano. Percebi nesse momento um certo receio por parte dos meus amigos ao ter me enviar essa carta para que eu apresentasse a mesma na embaixada. Comecei a entender um pouco da pressão politica sobre eles. O receio não tinha explicação, apenas me diziam que seria "complicado" por questões familiares. O preparo total da viagem foi de 2 anos, entre organizar gastos, tirar passaporte (afinal era minha primeira viagem internacional) e claro, aprender a compreender pelo menos um pouco de inglês. A língua oficial do Irã é o Persa, mas se você já parou para ver como é ela, irá entender porque parti para o inglês ao invés do persa, afinal meus amigos universitários todos falam inglês fluentemente e eles já haviam se oferecido para serem meus guias durante nossa passagem pelo país. 
Embaixada Iraniana em Brasília
           Essa viagem aconteceu no ano de 2014, ano de Copa e no Brasil! Lembro-me que quando chegamos na embaixada, com nossos passaportes, carta convite e só para não haver dúvidas de que eramos bem-vindas levamos conosco um Iraniano que estava morando no Brasil para estudos, ele nos fez a gentileza de escrever a carta em nome de sua família (Note que não cito nomes, justamente para preserva-los). Empolgadíssimas por termos conseguido todos os documentos necessários para ter o nosso visto, mas não contávamos que o Sr. Embaixador estaria indo para Belo Horizonte acompanhar o jogo do Irã. Imagina nossa cara, saímos laaaá de Minas Gerais para vê-lo e ele tinha acabado de sair para o aeroporto pegar um voo para Minas Gerais. Graças a um rapaz muito simpático da recepção que nos deu certeza que poderíamos voltar para casa sossegadas, pois ele encaminharia nossos passaportes para nosso endereço assim que o Consul voltasse. E assim foi feito, 4 dias depois ele ligou dando a nossa feliz noticia, nosso passaporte havia sido postado (e com visto!) e em breve estaria conosco. A partir dali nossa contagem regressiva ficou apertada, e o coração quase saía pela boca. Lembro que foi um corre corre para encontrar o sapato mais versátil e confortável, comprar malas, cuidado com uma maquiagem leve, roupas de acordo com a Lei Islâmica, queríamos ter pelo menos o suficiente até conseguirmos fazer um cambio do Dolar para o Rial Iraniano. 
            Até a chegada do grande dia foram 30 dias de terrível ansiedade, de mil pensamentos, e um milhão de dicas lidas na internet em diversos blogs, sites e grupos. Mas nada parecia abalar a confiança que eu sentia no meu peito. O único medo que realmente tomava conta de mim era o medo de não poder ser recebida por meus amigos, já que depois de ter que ter toda uma cerimonia para ter uma permissão para escrever uma simples carta, eu fiquei imaginando aquelas assembleias na tabula redonda decidindo ou não receber mãe e filha estrangeiras. Por tanto deixei bem claro que assim que meu amigo me recebesse no aeroporto ele nos levaria para algum hotel "seguro" longe de qualquer homem bomba (rs). Uma das principais recomendações de quando se vai ao Irã é: jamais toque na pessoa de sexo oposto em publico, nem mesmo um aperto de mãos é permitido, pessoas são levadas para as delegacias prestar contas quando são pegas pela policia da moral. Outra recomendação é ser discreta na vestimenta, dando preferencia para cores fechadas, como o preto, marrom, azul uniforme e afins. Maquiagem sempre nude, e nada de batom. Fui com tudo isso na cabeça e sempre decorando, não estender a mão para um homem quando for cumprimenta-lo". 
           E enfim chega o grande dia! O dia do embarque.

Mas essa história só está começando e os próximos 21 dias de viagem que se segue ainda tem muito por vim. Me senti a própria Glória Maria desbravando e revelando as verdades do país Persa, tantos mitos, tanto preconceito, e tantas verdades assustadoras. 

Na próxima parte: Irã - A chegada (a primeira impressão é a que fica)

Texto: Lidiane Oliveira

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